quinta-feira

O fio simbólico

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O ato de tecer, em regiões distantes entre si e tempos distintos, sempre nos remete ao movimento ininterrupto da vida. De maneira sumaríssima, diríamos que o quadrado representado pelas quatro travessas do tear, as duas horizontais (inferior e superior) e as duas laterais (esquerda e direita) formam um quadrado que nos remete à idéia de limitação.
O limite da vida humana, portanto.
O conjunto dos fios verticais (urdidura), e seus atributos (cor, comprimento, espessura, eqüidistância), uma vez determinados, não se pode mais mudar. Urdir é preparar o destino. Há circunstâncias e decisões que nos marcam para sempre. Acontecimentos, contextos, decisões, atos e fatos, palavras, perdas, situações à quais não poderemos jamais retornar para modificar.
Impossível remontá-la, a urdidura, sem morrer e renascer. Este é o primeiro movimento em relação ao desenho da trama de nossa vida.
Uma vez determinadas as características básicas do tecido, somos livres para fazermos, dentro daquele comprimento, daquela largura, e das especificidades dos fios que se alternarão, a teia de nossa vida. Tramar é viver. O movimento das navetes da esquerda para a direita e da direita para a esquerda é a construção da rotina que compõe a nossa história.
A urdidura firme, composta de fios belos e de belas cores, não nos garante o bom resultado. Como trançaremos os movimentos cotidianos é o que vai dar beleza ao tecido final.
No rolo da frente, sobre o colo do tecelão, fica enrolado o que já foi tecido, o passado simbólico. No rolo de trás (ou de cima), o urdume por tramar, o futuro, o que ainda não foi feito, o que pode ser mudado.
Entre os dois rolos, entre o céu e a terra, e limitados pelas travessas verticais da finitude humana, criamos diariamente a tela, a teia, onde fomos involuntariamente enredados.
Que a tecelagem participe de nossa reflexão sobre o mistério de viver.